A cultura do certo: pequenas ações, grandes impactos
Eduardo Lima*
Diretor de Assuntos Corporativos da CMOC International Brasil
“Atravessamos um momento de crise. ” Esta frase que permeia quase todas as discussões dos diversos grupos industriais no Brasil - há alguns longos meses - não se refere única e exclusivamente à economia. Apesar do cenário de recente recessão, acredito em uma recuperação e crescimento. A crise de valores, no entanto, e a descrença na moralidade do pais é a que mais tem atraído minha atenção.
Temos a sensação que o Brasil está passando a limpo à sua história e para que esse processo cumpra sua missão é necessário entender que a raiz de grandes escândalos está, muitas das vezes, nas pequenas ações e atitudes que culturalmente passam despercebidas ou que são genuinamente aceitas. Nesse sentido, entendo que as empresas têm papel fundamental na construção desse novo país, garantindo um comportamento profissional e ético de seus empregados.
Uma forte diretriz de governança e compliance determina os princípios e valores que devem reger as relações entre empregados, clientes, acionistas, parceiros e fornecedores. As organizações devem ser rígidas e até mesmo implacáveis em identificar desvios em seu negócio e combater comportamentos desonestos, ilegais, fraudulentos ou corruptos.
Acredito, no entanto, que para ser rigorosa a empresa deve ser transparente e estabelecer canais abertos com seu público, seja por telefone ou e-mail. É preciso ter clareza nas diretrizes e o empregado precisa entender o porquê das ações e quais suas reais implicações. É por meio do diálogo, ouvindo queixas, apresentando soluções e apurando denúncias é que criamos a cultura do certo. Consequentemente, entendo que é dever da empresa promover o hábito de respeito às leis em suas atividades e garantir que não existam conflitos de interesses ou danos à imagem.
Parece impossível imaginar que empresas não possuem mecanismos internos para monitorar e controlar desvios ou comportamentos desonestos e, com isso, evitar que grandes problemas venham à tona. Temos que levar em conta que um forte sistema de compliance não impede que uma crise aconteça, mas, sem dúvida, deixa a empresa mais preparada. Por isso, as ferramentas de gestão são fundamentais no trabalho de prevenção. Cabe aqui o velho ditado popular: “é melhor prevenir que remediar. ”
Qual o caminho a ser percorrido então? Trabalhar com a certeza que o modelo de governança deve adotar princípios sólidos e estruturados para atender a estratégia de negócio. É preciso ter em mente que a governança apoia o cumprimento da estratégia, não o oposto. Governança vai muito além de papéis e procedimentos é ela que apoia a geração de resultados de forma sustentável e com credibilidade.
Atuar com protocolos coerentes e claros, para que todos na empresa possam cumpri-los corretamente, tem implicação direta na imagem positiva da empresa. Acredito que neste momento de crise, especialmente de valores, é que as empresas podem sair fortalecidas se investirem em suas políticas de integridade. Dessa maneira, seguir boas práticas de governança é condição básica para trabalhar com transparência e obter melhores resultados.